O ataque realizado pelo Hamas em 7 de outubro contra Israel resultou não apenas em um violento conflito no Oriente Médio, mas também em uma disrupção significativa no comércio global. Uma das rotas marítimas mais importantes, que conecta a Ásia à Europa, foi praticamente bloqueada, impactando o transporte marítimo. Um ano após o início desse conflito, que continua a se intensificar, empresas de logística e navegação ainda não vislumbram um retorno à normalidade anterior à guerra entre Israel e o Hamas.

Os houthis, grupo iemenita apoiado pelo Irã, expandiram o conflito para o Mar Vermelho, transformando essa rota em mais uma frente de batalha. Atacando embarcações de países que consideram aliados de Israel, o grupo tem prejudicado o trânsito de navios pelo Canal de Suez, um ponto vital do comércio internacional.

 

Essa rota, que atravessa o Egito, é responsável por cerca de 15% do comércio global e 30% do transporte de contêineres, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Contudo, os ataques dos houthis causaram uma queda acentuada no tráfego.

Segundo Jan Hoffmann, especialista da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o controle dos houthis sobre o Estreito de Bab El Mandeb, no Mar Vermelho, culminou em uma série de ataques a embarcações comerciais, o primeiro deles em novembro, quando uma embarcação de carvão foi afundada por drones explosivos. Desde então, aproximadamente 80 navios comerciais foram atacados, intensificando a crise, ao ponto de envolver respostas militares de países como os Estados Unidos e o Reino Unido.

Esse envolvimento inesperado dos houthis no conflito entre Israel e Gaza teve efeitos devastadores sobre as cadeias de suprimentos globais, que já estavam fragilizadas após os impactos da pandemia de covid-19. Em 2021, o aumento nos custos de frete marítimo foi um dos fatores que elevou a inflação global, segundo o FMI.

A crise atual no Mar Vermelho, embora não tenha chegado aos níveis de paralisação observados durante a pandemia, continua sendo uma ameaça significativa. Entre novembro e fevereiro, o tráfego comercial através do Canal de Suez caiu drasticamente, reduzindo-se de 38 milhões de toneladas para 16 milhões de toneladas.

A mudança das rotas, que passaram a incluir o Cabo da Boa Esperança como alternativa ao Mar Vermelho, tem adicionado semanas às viagens e milhares de quilômetros às rotas até a Europa. Segundo o FMI, países como Jordânia, Arábia Saudita, Sudão e Iêmen podem sofrer uma queda de até 10% em suas exportações. O Egito, em particular, que depende do Canal de Suez para 1,2% de seu PIB, está vendo uma retração econômica, com previsões de crescimento reduzidas em 0,6 ponto percentual e agravamento da inflação devido à escassez de moeda estrangeira.

Empresas como a Maersk, uma das maiores transportadoras de contêineres do mundo, enfrentam dificuldades para compensar as novas demandas logísticas, precisando de mais embarcações para rotas mais longas. Isso, combinado com uma redução geral da capacidade de transporte, tem elevado as tarifas de frete em até 200% desde o final de 2023.

Além dos impactos diretos no comércio entre a Ásia e a Europa, o aumento das tarifas de frete também afetou rotas para a Costa Oeste dos Estados Unidos, agravado pelas secas que limitaram a capacidade do Canal do Panamá.

A combinação de crises no Mar Negro, Mar Vermelho e a capacidade limitada dos canais marítimos, somada a greves portuárias, fez com que as tarifas globais de frete subissem substancialmente, conforme aponta a Unctad. O aumento da distância percorrida pelos navios e a consequente redução da capacidade de transporte estão entre os principais fatores dessa alta.

Os especialistas afirmam que a situação só poderá ser resolvida por meio de soluções políticas, algo que não parece estar no horizonte. Enquanto isso, o mercado global de transporte de contêineres continua sendo profundamente afetado, sem uma solução clara à vista.

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