Foto: Jornal do comércio
Depois de um forte ajuste na primeira onda da pandemia, o déficit nas contas externas do país voltou a subir em 2021, com a recuperação da atividade econômica puxando importações e as remessas de lucros e dividendos pelas empresas.
As contas externas do país fecharam o ano passado com déficit de US$ 28,11 bilhões, o equivalente a 1,75% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados do Banco Central (BC) divulgados ontem.
O número ficou abaixo da projeção do BC para o período, que era de US$ 30 bilhões, conforme divulgado no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), mas é compensado com folga pelo ingresso de Investimento Direto no País (IDP), com US$ 46,44 bilhões. O resultado de 2021 ainda reflete impactos da pandemia de covid-19.
O déficit em conta corrente no período foi maior que o registrado no ano anterior (US$ 24,5 bilhões, ou 1,69% do PIB), mas menor que o observado antes da crise sanitária. Em 2019, foram US$ 65,03 bilhões.
“Houve uma redução importante de 2019 para 2020 e em 2021 esse resultado permaneceu em patamar baixo, embora mais elevado que no ano anterior”, ressaltou o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.
Segundo ele, em relação às transações correntes, 2021 foi dividido em dois períodos.
“Até maio e junho, tivemos redução no déficit em transações correntes, em linha do que vinha ocorrendo em 2020. A partir do segundo semestre tivemos um gradual aumento do déficit. Isso é condizente com uma economia que demanda mais bens e serviços do exterior e em que as empresas têm maior lucratividade, aumentando as remessas”, disse.
Rocha ressaltou que os lucros e dividendos, um dos fatores que puxaram a elevação em transações correntes no último ano, encerraram 2021 em US$ 29,85 bilhões e praticamente voltaram aos patamares de 2019, quando somaram US$ 31,9 bilhões.
Em movimento oposto, a balança comercial vem apresentando resultados positivos desde o início da pandemia e teve superávit de US$ 36,18 bilhões em 2021, superior ao observado no ano anterior, de US$ 32,37 bilhões.
Rocha destacou que as importações de criptoativos somaram US$ 6 bilhões em 2021. “O Repetro [regime aduaneiro], as importações de criptoativos e as importações de bens de pequeno valor explicam a diferença entre a balança comercial pelo conceito da Secex (US$ 61,2 bilhões) e as no conceito do balanço de pagamentos (US$ 36,2 bilhões)”, ressaltou Rocha.
Apenas em Dezembro, as contas externas acumularam resultado negativo de US$ 5,891 bilhões – a autoridade monetária estimava déficit de US$ 6,8 bilhões. Para Janeiro, o BC projeta déficit de US$ 8,4 bilhões.
As transações correntes mostram a diferença entre o que entra e o que sai do país em operações externas, como de comércio exterior, rendas e transferências. Déficit menor, contudo, pode significar desempenho mais fraco da economia, como foi em 2020.
As viagens internacionais, uma das contas mais afetadas pela crise sanitária, apresentou déficit de US$ 2,302 bilhões em 2021, resultado de US$ 5,250 bilhões de gastos de brasileiros no exterior e US$ 2,497 bilhões de turistas estrangeiros no país. As despesas de brasileiros lá fora caíram 70,15% em relação a 2019, quando somaram US$ 17,593 bilhões.
Rocha afirmou que o aumento recente da contaminação com a variante ômicron do coronavírus gera incerteza no curto prazo na conta de viagens internacionais.
Em Dezembro, os turistas brasileiros gastaram US$ 784 milhões em outros países, mais que o dobro do mesmo mês de 2020, com US$ 370 milhões.
Por Larissa Garcia e Alex Ribeiro — De Brasília e São Paulo
27/01/2022
Fonte: Valor Econômico